SILAS MASSINI
Especial para o Liberté
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Caros leitores,
Que alegria poder novamente compartilhar excertos de minha produção reflexiva e literária tendo oportunidade de divulgá-los através do conceituado Liberté, o qual por meio de sua gentil moderadora Lizzie, oferece-me importante suporte técnico para publicação e principalmente desejável liberdade de escrita e estrutura de organização. Isso sem dúvidas, a meu ver, é estritamente decisivo para que consigamos elaborar textos objetivos e principalmente de grande aproximação com o leitor, que o considero atualmente, mais do que um simples receptor, um pesquisador atuante de temas úteis, que lhe sejam vantajosos e ao mesmo tempo apaixonantes.
Fico honrado em poder participar de mais um especial Liberté – (de férias) e agradeço publicamente o carinho de todos vocês que acompanharam meus efêmeros artigos e incentivaram-me a continuar através de gentis comentários e apuradas considerações críticas.
Gostaria de ressaltar que o assunto que tratarei dessa vez não se declina exclusivamente à minha área de atuação profissional, porém dialoga com muitas disciplinas adjacentes não menos importantes para a compreensão e justificativa da arte; seja ela visual, musical ou literária.
Uma de minhas paixões, considerada um grandioso desafio, é encontrar um sentido lógico para tudo que nos motiva, seja no âmbito artístico, religioso, cultural ou político, fortemente presentes em nossa vida. Por isso considero a filosofia mais do que uma paixão, um instrumento de capacitação para análise e compreensão de problemas cotidianos às vezes banais, dotados de uma simplicidade ingênua e frequentemente perturbadora, que nos leva a refletir e a pensar um modo de melhor compreensão e análise de fatos, podendo ou não servir de consolo para nossa influente e considerável cognição.
O texto que proponho hoje, embora haja influências de teóricos tais como Becker e Kierkegaard, incita uma reflexão em um sentido mais amplo, ausente de qualquer pré-conceito fundamental para sua compreensão. Minha intenção é propiciar uma leitura construtiva que possa influenciar seus pensamentos e contribuir com seu cotidiano. O tema que discuto nesse artigo é o medo, a forma como lidamos com a consciência da morte e quais questionamentos deveríamos propor para lidar com essa premissa.
Convido a todos para uma taça de vinho e um antepasto filosófico.
TIM TIM!
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ARTIGO
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As meias do aniversário
e as lentes transitions
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Adoecer é uma lástima. Ó dura, penosa e indesejável convivência que a vida nos impõe, mais que certa, um destino. Desanima-se a luxúria, empalidece o desejo, enfraquece o orgulho.
Acamam-se nas tuas dores e no teu sofrimento todos os teus planos, teus projetos, tuas sonhadas edificações fantasiosas.
Felizmente, no repouso necessário do leito que acalenta e abraça o seu corpo, não se cansa de trabalhar energeticamente tuas reflexões. Adoecer é um presente. Um presente chato como as novas meias de aniversário, mas um presente útil quando se têm furadas as velhas meias do espírito.
Vê-se na doença e nas dores, quando manifestadas sem afetar a mente, presentes chatos que nos ensinam sua utilidade através do tempo; e é na dor que aprendemos a valorizar aquilo que não dói, aquilo que não se sente, aquilo que aparentemente não existe e é exatamente nessa “inexistência existente” que aprendemos o valor de se viver.
Quando falo em dores e doenças quero apontar o fato desses malefícios despertarem muito de nossa consciência e demonstrarem o quanto somos fracos diante da imbatível natureza e é exatamente nesse momento que uma das razões da forma de consciência humana se manifesta: o medo.
Ora e o que é o medo senão uma condição de sanidade que favorece, em certo sentido, nossa capacidade de não errar, de agir corretamente e acima de tudo, não sofrer? O medo, despertado pela doença é um medo que favorece principalmente o seu posicionamento em relação à morte e consequentemente sobre o seu futuro enquanto ser – humano, enquanto um ser mortal que não tem consciência de onde veio e nem para onde vai. Ao “fatorarmos” esse pensamento talvez chegaríamos a uma lógica de que a dor e a doença provocam medo. O medo provoca reflexão. A reflexão provoca medo. Pensar, tendo consciência de sua mortalidade, é a princípio algo incompreensível e perturbador, contudo, apesar dessa terrível consciência vive-se bem e pelo fato de viver-se bem, conclui-se que o medo é definitivamente um fator decisivo na adaptação da espécie humana.
Ora, precisa-se de dor para transformar a nossa postura enquanto indivíduos conscientes? Precisamos sofrer fisicamente, emocionalmente, psicologicamente para que vislumbremos um grau da felicidade? Não teríamos perdido nossa sensibilidade e nossa capacidade de sentir a vida de forma sã? Qual seria o papel da religião e das artes quando o cerne da questão é viver conscientemente feliz?
O medo manifestado através de uma doença, por exemplo, talvez deva ser visto não como uma efêmera patologia física com fins tratáveis, mas sim como um óculos moderno de lentes transitions que favoreça nossa visão tanto no escuro como no claro, um instrumento capaz de sensibilizar nossa visão para objetos antes vistos, porém ignorados pelo desfoque e sujeira do tempo.
É no momento da angustia e do pesar que brotam as inquietações e os questionamentos sobre a vida que se tem, a vida que se teve, a vida que se pretende ter. A doença e consequentemente o medo são responsáveis pelo novo sentido que toma a sua vida, uma etapa a ser superada, um obstáculo a ser vencido que deixa as suas lembranças, seja através de cicatrizes ou arrependimentos.
Portanto, ao considerarmos a reflexão sobre o fato de termos medo, talvez devamos administrá-la de forma positiva, tentando considerar o medo instrumento de visualização do futuro, um beneficio a favor de nosso comportamento reflexivo. Certamente o sofrimento inerente a esses malefícios não deixaram de existir, contudo, a conscientização e aceitação dessa natureza certamente determinarão atitudes calcadas no bom senso e na racionalidade. Nesse momento evidencia-se o valor da abstração, o valor da arte, o valor da vida!
Silas
É um assunto cativante…que me chama muito a atenção,pois somos ainda tão inferiores que precisamos do sofrimento para darmos valor aos momentos felizes!
“Felizes os que sofrem e choram!Que suas almas se alegrem,porque serão atendidas por Deus” Santo Agostinho
Parabéns ao nosso grande articulista do Liberté!Você é perfeito.
Belas as palavras de Santo Agostinho! Agradeço seu comentário!
Bjs!
Ah, que pena que preciso ser uma boa anfitriã e não posso desafiar o convidado com meu ponto de vista behaviorista da questão! Hahaha!
É preciso ter coragem, bagagem e uma boa dose de petulância para abordar um assunto como esse, se propondo a flertar com ninguém menos que a Sra. Filosofia. E quem disse que SM não possui tais requisitos?
As questões foram levantadas, a visão de mundo pouco exercitada e empoeirada foi sacudida e sua missão, gloriosamente cumprida.
Como de costume, não é o seu sucesso que me surpreende, mas os meios sempre bem elaborados, sinuosos e provocativos pelos quais chega lá.
Quem agradece pela sua participação sempre e sempre sou eu!
Beijos*
hahahaha…como boa anfitriã, tem que se comportar adequadamente!…. só oferecendo dry martinis! hahhaha
Silas você é brilhante!! Que texto!!
Verdade que a doença, o medo e as angustias nos fazem refletir sobre o sentido da vida e como nos posicionamos frente a ela para continuarmos seguindo em frente. Elas nos fortalecem e deixa os arrependimentos de lado que são uma perda de tempo.
Concordo com a Marta, infelizmente ainda somos seres inferiores, só com o sofrimento e as dificuldades damos valor ao que temos.
Parabéns Silas você realmente é muito bom em filosofar e seu texto é cativante!!
Ahhh quanta gentileza, Regina! Agradeço imensamente suas palavras!
Silas, MARAVILHOSO TEXTO, PARABÉNS, eu amo filosofia, e como é verdade que precisar refletir muito quando ficamos enfermos, ano passado peguei uma meningite viral, ……….eu pensei que fosse morrer………..aí veio em mente, meus filhos , minha mãe, o medo de não estar mais aqui, o arrependimento e ate promessas fazemos no leito, nestas horas Deus nunca foi tão solicitado antes,
Amei a matéria Silas,
chérrie, parabéns pela equipe, bises in your heart
Olá Cimara,
Fico feliz em saber que gostou! Filosofia é sempre apaixonante!
Deus é seguramente um forte refúgio nestas hora e a fé, sem dúvidas, é capaz de muitas coisas. Todos nós um dia temos a possibilidade de usar as novas meias, e as lentes transitions, você mais do que nunca pode confirmar! Resta-nos aprender com a experiência!
Bjs
La mia limitata conoscenza del portoghese non mi permette di esprimermi in questo splendido idioma e chissà quando, grammatica e pudore mi consentiranno farlo; chiedo pertanto scusa se uso l’italiano, mia lingua materna.
Mi preme però lasciare, insieme agli altri, un breve commento all’articolo di Silas, il cui contenuto sottoscrivo pienamente e che mi ha molto colpito per motivi di carattere personale.
La lettura del brano, infatti, mi ha riportato indietro ad un remoto periodo della mia esistenza, nel quale, assai giovane, a seguito di una seria malattia mi sono trovato ad indossare anch’io queste metaforiche Lenti Transistions di cui si parla.
Diversa appare la vita vista attraverso un’ottica resa più acuta dalla malattia: i valori di riferimento cambiano di colpo, altre appaiono le priorità; le persone amate, delle quali diamo per scontato la presenza, sembrano improvvisamente avvolte da una luce nuova!
Sì, certamente la malattia può anche essere vista come un dono, “um presente”, come dice Silas, a patto che, resa più acuta dal male e dalla consapevolezza che la morte stia lì in agguato anche per noi e non solo per gli altri, la nostra sensibilità acquisti una diversa percezione del mondo, così come auspicato dal nostro giovane autore.
Quando poi però “o sofrimento”, quel tipo di sofferenza di cui parla la signora Marta, viene meno, perché la malattia è ormai un lontano ricordo, un argomento di conversazione, e riponiamo in un cassetto le nostre brave Lenti Transitions, quanti avranno poi saputo far tesoro di questo dono che la vita ha messo sul loro cammino? Sarò pessimista, ma temo ben pochi!
Parabens Silas. Auguri!
Caro Giuseppe,
mi piacerebbe tradurre il tuo commento, così tutti possono capire ciò che hai scritto!
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Caro Giuseppe,
eu gostaria de traduzir o seu comentário, assim todos podem entender o que escreveu!
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TRADUÇÃO:
O meu limitado conhecimento da língua portuguesa não me permite exprimir neste esplêndido idioma e quem sabe quando estiver com melhor gramática e menos vergonha consentirei em fazê-lo. Portanto, peço desculpas se uso o italiano, minha língua materna.
Eu gostaria de deixar, juntamente dos outros, um breve comentário ao artigo de Silas, o qual, em relação ao conteúdo, concordo plenamente. Fiquei muito impressionado em razão de ter vivenciado algo de natureza pessoal.
A leitura do trecho, de fato, me remeteu a um remoto período da minha existência, no qual, ainda muito jovem, em razão de uma séria doença, encontrei-me a endossar também estas metafóricas lentes transitions das quais se fala.
Uma perspectiva diferente é vista em razão da vida se tornar aguda pela doença. Mudam-se os valores de referência, adquire-se outras prioridades, as pessoas amadas, de repente, parecem estar revestidas de uma nova luz.
Sim, certamente a doença pode também ser vista como um dom, um presente, como diz Silas, contanto que permaneçamos mais perspicazes em relação ao mal e conscientes de que a morte também nos aguarda, não só os outros. Adquire-se uma nova percepção do mundo, assim como comentou nosso jovem autor.
Contudo, o sofrimento, aquele tipo de sofrimento de que fala a senhora Marta, se manifesta com menos intensidade, porque a doença é portanto uma vaga lembrança, um assunto para se debater. Recolocamos na gaveta as nossas ótimas lentes transitions.
Quantos teriam tido a sensibilidade e teriam aproveitado esse dom que a vida colocou em nossos caminhos? Eu serei pessimista, mas temo muito poucos!
Parabéns Silas
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Fofucho, ringrazio tantissimo la tua partecipazione. È sempre un piacere avere la tua opinione e i tuoi commenti!
Mi piacerebbe sapere poi quale la malattia che avevi quando bambino!
abbracci!
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Caro amigo, agradeço muito a sua participação. É sempre um prazer ter a sua opinião e os seus comentários.
Gostaria de saber depois qual a doença de teve quando criança!
abraços
Emi
Silas, precisei de um bom tempo de reflexão sobre o conteúdo do seu texto pa
ra poder me manifestar.A Bíblia diz que o medo é falta de Fé,porém nós, seres
humanos ,constituídos de corpo,alma e espírito,não conseguimos ser tão espi-
rituais a ponto de superarmos esse sentimento tão negativo. Precisamos de ar
tifícios como as lentes transitions para driblá-lo,tentar superá-lo para que não
desfaleçamos. Eu gostaria de subir mais um degrau no caminho da espirituali
dade para enfrentar com ousadia e até desprezo tal sentimento. Obrigada por
compartilhar tão brilhante texto conosco,porque você é brilhante! Emi
Olá Emi,
Coincidentemente seu nome é muito parecido com o da minha mãe, Eni! hahaha
Fico feliz em saber que provoquei uma ação reflexiva em você! Esse é o grande objetivo do artigo!! pretendo demonstrar novas perspectivas em relação aos nossos medos naturais. A bíblia solucionou este problema ao afirmar que o medo é a ausência da fé; mas considerando os descrentes e os ateus, como deveriam lidar com esse fato? Será que uma pessoa que aparentemente tenha mais espiritualidade desprezaria o medo? Será que os mais “espiritualizados” não seriam os mais medrosos?
São perguntas que nos fazem pensar sobre possibilidades, não é mesmo?!
Agradeço muito seu gentil comentário!